8 de agosto de 2016

Sobre a síndrome de pequeno príncipe, responsabilidade emocional e empatia.


Se você tem facebook e tem amigos que compartilham textão você provavelmente deu de cara com pessoas compartilhando textos sobre ''ser contra a geração que não demonstra o que sente'' ''de ser contra joguinhos'' ''de ser 8 ou 80, ou vai ou fica.'' Eu inclusive compartilhei coisas do tipo. Da mesma forma, tiveram pessoas que compartilharam coisas totalmente antônimas como: ''não sou obrigado a responder rápido'' ''as vezes eu sou frio mesmo'' e afins. Com quem eu concordo? Bom, com as duas.
Eu entendo as duas. Eu sinto as duas. Eu sou as duas. Você também é, querendo ou não. Você também quebrou um coração por aí, foi filha da puta com alguém, alguém já sentou e discorreu sobre como você foi legal mas depois sumiu, ou simplesmente mudou. E isso ocorre sim, ninguém é obrigado a não mudar, ser o mesmo pra sempre só pra conservar o sentimento de outra pessoa por você. Talvez seja essa é grande questão.
Todo dia somos bombardeados por textos de pessoas da nossa geração falando sobre pessoas da nossa geração na nossa geração. É a geração do smartphone falando através de um smartphone sobre como um smartphone é ruim e aliena as pessoas. E sim, a nossa geração tem alguns problemas. Vários. Mas só escrever sobre eles não adianta muita coisa, não é? Pois é. Mas é exatamente isso que eu estou fazendo. Entende?
A frase ''você é eternamente responsável por aquilo que cativas'' tem assombrado muito os nossos ouvidos, durante anos. A síndrome de raposa e pequeno príncipe se mostra presente no nosso cotidiano. Você dá match numa pessoa no Tinder, se anima, fala várias coisas, faz altos programas e promessas com a pessoa e para a pessoa. Vocês se falam todo dia, você tá naquela exaltação e de repente: acabou. Você não quer mais responder aquela pessoa, viu uma postagem dela que você não concordou, o encanto acabou. Miou. Se foi. Broxou. Pra você, ela mudou. Pra ela (a pessoa), você mudou. E na verdade tudo que ocorreu foi algo chamado: Tempo. Ele simplesmente passou. Mas e aquilo tudo que você disse pra ela? As saídas que você disse que teriam? As ''você é uma pessoa tão maravilhosa pra ser real'', ''você tem tudo haver comigo'',''eu nunca encontrei ninguém assim'', ''seus problemas acabaram, eu sou diferente, não vai sofrer comigo''. Pois é. Aquilo fica, não é? Na cabeça de um, no coração de outro.
A gente passa por várias pessoas nessa vida, nós não sabemos o que ninguém carrega dentro de sí. Traumas, fobias, espiritualidade, energias, passado, experiências, sentimentos. Nós somos o somatório disso tudo. E é tudo isso que temos pra dar. Não só isso, claro. Mas é por ai.
Já disse inúmeras coisas que passei na minha vida pra pessoas diferentes e ouvi de muitas que eu era forte por aguentar o que aguentei, já outras diziam ''ah é? pois eu passei por isso, e aquilo, e também tô aqui.'' e eu ficava de cara, porque sim, essa pessoa tava ali depois de tudo isso. E eu também. E isso era foda demais. Mas também via pessoas com cara de paisagem, desesperadas, por não ter passado por coisas daquele tipo, ou piores, e não saber o que contar. O que comparar, o que equiparar. E o que fica no final dessa conversa? A famigerada empatia.
Não, você não sofreu o mesmo que outra pessoa. Sim, você pode ter passado pela mesma situação, mas não, você não sofreu o mesmo que ela. Não como ela. Você não sabe o peso que aquilo tem pra pessoa. Assim como você também não sabe o que a sua pequena baguncinha vai fazer na vida dela. As promessas, os planos, as coisas que você disse que ela era: elas não vão embora. Elas não vão ser retiradas. Elas podem sofrer mutação, elas podem mudar, podem evoluir. Mas sumir elas não vão.
Assim como você também não pode colocar nas mãos de alguém todo o seu bem estar emocional. É importante se cuidar, é importante olhar pra dentro. A sua felicidade não deve depender de uma resposta rápida no Whatssap. De um visto por último, de uma visualização. Por favor, você é mais que isso. Eu digo você, eu digo pra mim.
Assim como, pra outra pessoa, o nível de interesse dela não está atrelado ao quanto tempo ela passa falando com você, ou se ela respondeu rápido, ou se ela te chama toda hora. As vezes, o interesse dela tá em mesmo depois de um dia cansativo de trabalho, ela chegar em casa, ver a sériezinha, comer, descansar, pra estar bem e poder falar com você. As vezes, ela só tem um jeito diferente de demonstrar interesse que você, e não é joguinho. Você pode querer que ela demonstre sempre interesse e querer grite, mande textão, ligue, stalkeie, curta tudo e não se assustar com isso. Mas nem todo mundo consegue fazer isso e se sentir bem. E você precisa entender isso.
Sim, os joguinhos estão em alta. A gente tem que tomar cuidado com tudo que fazemos virtualmente, porque tudo é sinônimo de interesse e da falta dele. Mas a gente precisa saber que: Joguinho não é sinônimo de interesse. E que: Nem tudo é joguinho. As vezes é falta de interesse, e precisamos saber quando alguém não nos quer mais, aceitar isso e seguir.
A responsabilidade que você tem sobre aquilo que cativas, ela não é eterna. Mas você não sabe o peso que aquilo carrega pra quem irá recebe-la, então não cultive. Sejamos sinceros, sejamos jogo limpo, sejamos nós. Mas vamos olhar primeiro, e saber primeiro com quem podemos ser.
No final, aquele velho ditado de não fazer com os outros o que não queremos que façam com a gente é o vale. E isso vale pro que nós podemos fazer com nós mesmos também.